terça-feira, 16 de julho de 2013

Amiga, Cá Sant


Quando eu era pequena minha mãe sempre dizia: "Não se perca de mim!". E eu nunca entendi o que ela queria dizer. Pensava que ela queria evitar que eu sumisse na multidão e tivesse que ser chamada pelo microfone atrás do palco, ou ainda que eu me afastasse um pouco e fosse criada por uma família de ciganos. Minha avó dizia algo sobre isto, sobre ser criada por uma família de ciganos e isso também me encantava internamente. Mais velhos, nós descobrimos que quando uma pessoa se perde, pode ser assustador, mas que mais pavoroso é a sensação de duas pessoas que se perdem, não na rua, ou no shopping, mas na vida. Dói, mas faz parte do amadurecer: limpar as folhas secas, que hoje só lembram vida, para que a vida real brote em nós. Todos os grandes sábios disseram isso. Sabedoria é a elegância nata diante da dor. E assim doeu quando percebi que nem todos que nos amam nos fazem bem. E também doeu quando percebi que o ego pode matar a amizade. E doeu ainda... mais quando senti que estava perdendo, por entre os dedos, gente que já amei e para quem me dediquei com toda a vontade e fé. E a vida vai nos dilacerando. Nos arrancando partes, quando já pensamos estar completos. E a vida vai nos desmontando, nos completando de alguma coisa, nos remodelando, como uma criança criando formas na areia. Já amamos pessoas que não sentem mais a nossa falta, que não nos dirigem mais a voz, que não se dizem mais nossos. Eu ando balançando o galho. Sem essa de se prender às migalhas de relações falidas ou injustas, desde o princípio. Apagar, a gente não apaga ninguém. A gente só afasta a imagem, a lembrança rotineira de alguém com quem já dividimos amor ou amizade. Crescer dói, seja aqui, aí, ou numa família de ciganos.

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